2010/03/06

Como viemos parar do outro lado do mundo?

- Meu pai ligou e falou para todos nós irmos morar no Japão.

Era um dia como outro qualquer, mas acabou não sendo por conta destas 12 palavrinhas juntinhas acima. Naquela época - não tããão distante assim! -, nós ainda namorávamos, e o Igor sempre me buscava em casa para passarmos a noite juntos. Nada além do normal, até que ele, dirigindo, proferiu a frase acima. Frase esta que não tínhamos ideia de que mudaria as nossas vidas para sempre. Pois é, o que pareceu ser da boca para fora, virou a realidade que estamos inseridos neste exato momento!

Nosso sonho de viver no Japão existe desde que nos conhecemos, há quase oito anos. Ele sendo sansei, e eu amando coisas made in Japan desde que me conheço por gente, não havia como evitar. Mas como éramos jovens, com outras ambições na vida e um outro futuro traçado em nossas mentes, o Japão era sempre o nosso plano B, só esperando, beeeem quietinho, que tudo desse errado para ser colocado em prática. Só que, no final das contas, acabou virando o plano A! Não por algo ter dado errado, e sim por nada ter dado certo!

Como podem ver, nós não acordamos um belo dia e decidimos morar no Japão. Essa escolha precisou de muito planejamento. Levaram-se quatro longos e reflexivos anos para esta ideia amadurecer e, então, se tornar realidade. Mas nada eram flores. Muitas dúvidas e medos invadiam nossas cabeças, nos deixavam piradinhos! Ficávamos divididos entre abandonar nosso país e fazer acontecer no Japão, ou dar mais uma chance à pátria amada Brasil e ir à terra do sol nascente somente para turismo. Fazíamos uma boa faculdade, nos formaríamos com muita honra, por que então jogar tudo isso para o alto e viver como dekassegui? Mas a resposta era muito simples e estava bem formulada em nossas mentes e corações: realizar um sonho!

Amadurecidas nossas escolhas, era hora de colocar esse plano doido em prática. Só que, então, veio a crise financeira mundial. E com ela, uma profunda crise emocional dentro de nós dois. Nosso mundo desabou! Foi pior que uma bomba atômica! Nossos sonhos estavam destruídos, em pedaços, espalhados pelo chão! Não tínhamos ânimo para mais nada! Estávamos com nossos tão suados diplomas diante de nós... mas com o Japão no coração. O que fazer? Afinal, devíamos mesmo largar tudo para viver no Japão? A crise é um sinal para desistirmos? Enquanto tantos imigrantes retornavam aos seus países de origem, falidos ou com medo, nós ainda queríamos partir em direção à terra do sol nascente. Parecia burrice, ignorância, cegueira, inocência. 

Mas não desanimamos! Nós 「ganbattamos」 e aproveitamos este tumultuado ano para, além de refletir mais sobre o caminho que havíamos optado por seguir, estudar nihongo! Pois é, é como dizem: há males que vem para o bem. E estudar um ano de nihongo foi uma dádiva sem proporções! Ler hiragana, katakana e 200 kanji não é para qualquer um, nós realmente levamos o tão proferido ganbatte a sério. Tudo isso graças à crise financeira mundial! Arigatou, bancos falidos dos EUA, hehehehe ^o^

Com nossa sensei do Kumon, Jane! Ela nos ensinou lições valiosas! Arigatou gozaimasu! ^^

Gracinhas à parte, finalmente o pior passou e, então, nossos vistos saíram. YATTA! Em 42 dias, eles estavam em nossas mãos, rosinhas, delicados, cheios de sakuras e, de brinde, muita esperança e coragem para nos guiar nesta jornada. O sonho estava prestes a acontecer!

Nossos vistos! *o*

Mas sem um bom emprego, não ia rolar. O visto estava prestes a vencer, até que uma grande agência de empregos no Japão lá do Brasil surge no fim do túnel. Mesmo em um cenário pós-crise caótico e aparentemente sem esperanças, os funcionários desta agência nos arranjaram uma ótima colocação. Confesso que em um primeiro momento esta vaga inédita me assustou um pouco, afinal, era exatamente em um dos setores mais duramente afetados pela crise financeira mundial: o automotivo. Mas como era agora ou nunca, optamos pelo JÁ! E, pronto, estávamos a somente um passo para o nosso tão amado Nihon! 大好き日本!

E eis que estamos aqui, diretamente de Iwata, contando tudo isso para vocês, com o maior orgulho do mundo. Hoje nós trabalhamos em uma fábrica automotiva. O Igor faz escapamentos e abastece a linha de produção com tração e tanque de gasolina. Já eu trabalho no setor do painel, no qual abasteço a linha com peças como velocímetro e air-bag, além de montar o ar-condicionado. Ao contrário do que todos dizem, nossos trabalhos são fáceis, tranquilos, leves e ninguém nos explora - viu, pai? Não somos escravos de ninguém, temos direitos e deveres a cumprir e respeitamos muito nossa empreiteira.

O serviço não é pesado e nem corrido. É claro que, uma hora ou outra, a gente fica 「na roça」 - como diz o pessoal da fábrica quando atrasa o serviço! Uma comédia essa gíria! -, mas rapidamente voltamos ao ritmo normal, pois já dominamos nossos setores. E, a qualquer momento, podemos puxar o andon e chamar o hancho ou o herupa para nos ajudar a sair da roça! No começo, obviamente, sentíamos muitas dores, principalmente nas costas, por sermos muito altos para o padrão japonês. Mas essa é uma dificuldade que enfrentamos até no apato, pois as pias são beeeeeeeeem baixinhas! Gente alta sofre no Japão!

Como podem ver, o Japão não é nenhum bicho de sete cabeças como alguns dekasseguis descrevem. Não é certo julgar algo sem conhecer primeiro. O negócio é vir e comprovar com os próprios olhos! Não que não existam serviços ruins aqui, mas só os faz quem quer, não é? E, definitivamente, se nosso shigoto fosse horrível como pensam, já teríamos pulado fora há muito tempo. Amamos o Japão, mas trabalhar sob péssimas condições seria um total absurdo!

Nos próximos posts, mostraremos algumas curiosidades aqui do Japão! Podem acreditar que aqui existem muuuuuuuuuitas, uma mais legal (e doida) que a outra! ^o^

まったね!

PS: Gomen ne, preferimos não citar o nome da empresa e da empreiteira que nos contratou por questões éticas. Afinal, não dá para saber quem acessa nosso blog, muito menos o que podem fazer com nossas informações. Como jornalista, sei muito bem o estrago que uma informação distorcida faz à sociedade. O que menos queremos é que este sonho chamado Japão acabe algum dia. Contamos com a colaboração de todos, onegaishimasu! ^_^

4 comentários:

  1. AEAE!

    Eu sempre tive vontade de conhecer o Japão, sempre mesmo, desde que comecei a tomar gosto pelos animes a ponto de agradecer ao garçom em japones... ^^'

    Continue sim, gostaria muito de saber das curiosidades do Japão... inclusive eu queria confirmar umas coisinhas... as meninas realmente usam aquelas saias de anime tão curtas como uniforme? Em todo anime tem as mesmas saias, curtinhas, de pregas... mas queria saber se era exagero do desenhista ou se era verdade mesmo...

    E como é a violência? A questão polícia x sociedade? Há muita violência? Ou quase nada? (pelos indíces, parece ser um paraíso...)

    ^^'

    ResponderExcluir
  2. Sério? Que inveeeeeja, quero me mudar pra Japão, agora, nesse segundo. Sério, eu tinha medo de que o negócio da violência fosse mito (embora a minha certeza seja de uma notícia de jornal que apresentou a notícia assim: "Em lugar tal, Japão, um motorista lançou o carro para cima de pedestres. Os japoneses estão muito preocupados porque é a segunda vez que isso ocorre em seis meses e pedem providências imediatas". Depois dessa notícia, me apaixonei total). Ainda mais o contraste com o nosso lindo país, mega violento. Sério, eu não consigo acreditar que faça alguma diferença entre um país estar em paz ou em guerra, porque casos de violência, assassinato, estupro e etc acontecem quase todos os dias, de forma constante. Deixei de ver jornal porque não aguentava mais tanta tragédia!

    Diários de papel, eu amo! Tenho desde 9, e pretendo voltar a escrever... até porque um diário de papel é só pra você, ninguem lê, e essa privacidade é ótima, e funciona como uma terapia solitária, o que ajuda quando tem problema do tipo que é melhor ninguém ficar sabendo.

    Ah-Ah! Eu tinha certeza do negócio da saia, bem que isso era total perversão dos animes. Isso é comum? Cara, praticamente todo anime, o criador arranja um jeito de mostrar o lado sexual da coisa. Ouvi dizer que eles são bem tímidos, então extravasam seu lado pervertido da coisa em desenhos que viram animes, rs. Bem, isso me lembra que ao menos os fetiches mais perigosos como sexo à força ficam restritos aos animes, não é?

    Desde que eu acessei http://portedoree.blogspot.com/, que é sobre a França, eu procuro um blog do gênero - uma brasileira no exterior que fale desse país - que fale do Japão, e finalmente achei o seu (antes achei um, mas a menina já tinha saído de lá, e achei outro, mas ela falava mais de moda do que hábitos japoneses e coisas do tipo)! Posso dizer que foi uma dádiva, então espero realmente que continue com esse blog e fale sobre os hábitos japoneses até cansar, rs :D

    Hm... Je Nai? ^-^"

    ResponderExcluir
  3. Ah, sim, e achei seu blog da forma menos esperada: você estava pedindo ajuda sobre cabelos loiros na comunidade Cabelos Coloridos, acho... procurar uma tinta que seja o seu tom de loiro, não é?

    Já achou? Boa sorte nisso! Em lojas de cosplay sempre devem ter, já vi fotos de japoneses com o cabelo da cor do seu...

    ResponderExcluir
  4. Oi,te vi na cmunidade de Hamamatsu e curiosa que sou entrei em seu blog,adoro ler e voce aqui tao pertinho de mim,posso linkar seu blog ao meu?
    Escreve mais,beijo!!

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário para o casal de Iwata! ^^