2010/05/20

SASQUATCH!: Nosso primeiro show no Nihon - parte 1


Sou apaixonada por música. Quero dizer... não por música em geral, mas sim pelo rock, principalmente o punk e suas vertentes (ska punk, pop punk etc). Cheguei até a arriscar tocar baixo em uma banda só de meninas punks, em minha adolescência rebelde. O Akio também teve banda e toca guitarra e violão até hoje. Como diz a música パンク・ロック (Punk Rock), do ザ・ブルーハーツ (The Blue Hearts, lendária banda de punk rock japonesa), 僕 パンク・ロックが好きだ(boku panku rokku ga suki da = eu amo punk rock! ^o^). Também adoro bandas japonesas, muito antes de inventar essa aventura doida pelo Japão. Mas um grupo em especial, formado por cinco japinhas mascarados, roubou meu coração há pelo menos três anos. Desde então, sou viciada nos caras; o Akio não aguenta mais me escutar  ouvindo sempre as mesmas músicas e revendo o blu-ray deles milhões de vezes, sem nunca enjoar! Viver no país de origem deles sempre pareceu um sonho distante, mas acabou acontecendo. Ir a um show, ver suas expressões faciais, enxergá-los bem de pertinho, sentir toda a energia do quinteto, estar em sintonia com eles, parecia impossível... mas aconteceu! Para ser mais exata, dia 15 de maio, no circuito Fuji Speedway, no festival Japan Jam, show do Beat Crusaders, os únicos gaikokujins do evento. Sim! O Iwata Kappuru estava lá!




Quando soube que minha banda favorita se apresentaria pertinho de casa (não tão perto assim, mas bem mais do que onde costumavam tocar!), não pensei duas vezes para repetir essas duas palavras: EU VOU! Logo contei ao Akio sobre meu desejo e, claro, ele concordou. Compramos os ingressos (8,500  cada, cerca de 85 dólares) pela internet e pagamos no konbini Seven Eleven. Tudo lindo e maravilhoso, afinal, o passaporte para o paraíso estava em minhas mãos! Restava saber COMO realizar tal façanha. De que forma chegaríamos ao pote de ouro no fim do arco-íris?

Ingressos do Japan Jam 2010! Sugoooooi! *o*

O marido mais perfeito do mundo se encarregou dessa tarefa. Com ajuda do site Hyperdia, traçou rotas por trem e por shinkansen, saindo de Iwata e tendo como destino a cidade de Gotemba. Vimos qual compensava mais e, apesar de mais caro, a princípio optamos pelo trem-bala, afinal, não queríamos chegar atrasados de jeito nenhum. Os portões abririam às 9:00 am, o show começaria às 11 am e a formação da fila... sabe-se lá quando. Já visualizávamos uma extensa fila, com milhares de pessoas acampando e lutando contra o severo frio que faz no circuito. Só que o primeiro shinkansen desse dia sairia às 6 am de Hamamatsu! Não dava tempo! E agora?!

"Que tal irem um dia antes e se hospedarem em um hotel lá perto?", nosso amigo Júlio, veterano de Japão e de shows, deu a tentadora sugestão. Fazia sentido! Como não pensamos nisso antes?! Então lá fomos nós em mais uma empreitada: procurar hotéis baratos nos arredores de Gotemba, o ponto mais próximo do isolado circuito. Com uma rápida pesquisa no Google, logo achamos o hotel perfeito: Senraku Business Hotel, com uma diária pela bagatela de 8 milão, por casal. Uma verdadeira pechincha! Ligamos e reservamos o hotel na hora. Tivemos muita sorte, pois a atendente falava inglês e ainda havia quartos disponíveis. やった!(Yatta! = significa, literalmente, "eu fiz!". Os japoneses dizem isso quando conseguem ou comemoram alguma coisa... kawaii desu ne! ^_^)

No dia 14, ao sair do trabalho, corremos o mais rápido possível em direção ao ponto de ônibus que leva à estação de Iwata. Lá, compramos o キップ (kippu = bilhete de trem) para a estação de Shizuoka, onde faríamos baldeação para Numazu, e de lá, para Gotemba. Foi uma longa viagem, de quase 3 horas, bastante cansativa. Não havia absolutamente nada para fazer, o que acabou sendo bem proveitoso, pois observamos melhor os 日本人 (nihonjin = japoneses). Foi bem engraçado reparar que os japoneses odeiam ficar à toa ou olhar uns para as caras do outros: alguns dormiam (de boca aberta e tudo!), outros liam um livro ou uma revista, e a maioria mexia no celular (90% da população japonesa que possui celular assina plano de internet móvel). Mas nós éramos os únicos desocupados que olhavam a paisagem correr pela janela!


Gotemba eki desu! ^o^


Ao chegar em Gotemba, estávamos completamente mortos de fome. Paramos no McDonald's em frente à 駅 (eki = estação) e fomos recepcionados por outros 外国人 (gaikokujin = estrangeiro), americanos. Papo vem, papo vai, nossos lanches ficaram prontos e fomos embora correndo. Apesar de termos estudado a fundo a localização exata do hotel no mapa antes de sair de casa, nos perdemos! As ruas do Japão são todas parecidas, padronizadas, um verdadeiro labirinto! Uma fina garoa caía. Meu desespero era evidente. E agora?

Andamos, andamos e andamos. Não havia nenhum comércio aberto. Estava tudo muito escuro e silencioso. Até que avistamos a luz no fim do túnel: um pequeno restaurante 24 horas no meio do breu! Entramos, pedindo すみません (sumimasen = com licença), e perguntamos onde ficava o Senraku Hoteru. O simpático e prestativo casal japonês que ainda trabalhava tarde da noite nos explicou que ficava bem ao lado, só alguns passos à frente. Agradecemos e seguimos viagem. O arco-íris estava pertinho de nós! やった!

Senraku Hoteru desu! ^_^


Passamos a noite no hotel e pela manhã, às 7 am, pegamos um タクシー (takushii = táxi) até o Fuji Speedway. Era bem cedo, não havia trânsito e muitas pessoas fotografavam o glorioso 富士山 (Fuji-san = Monte Fuji). O céu estava nublado, mas era possível visualizar o Fuji bem pertinho! Enorme! Branco! Maravilhoso! Deslumbrante! Nunca havíamos visto algo tão magnífico assim! É o mais perfeito cartão-postal do Japão!


O Iwata Kappuru estava láááá na frente, antes desse pessoal todo! *o*

Dois mil e quinhentos ienes mais tarde (cerca de 25 dólares, por mais ou menos 20 minutos de corrida de táxi), chegamos ao circuito. O local é composto pelo mais puro verde. Só são vistas árvores, flores, pássaros, plantas, mato, insetos. E no horizonte, montanhas até onde a vista alcança. Não há prédios, casas, nenhum traço de civilização. O ar puro do lugar nos relembrou de imediato do nosso primeiro dia no Japão, onde o forte cheiro do ar nos fez ter a certeza de não estarmos mais em solo brasileiro. Naquele momento, só havia os organizadores do evento e alguns poucos carros chegando. Subimos um extenso caminho verde até chegar à fila, onde havia uma meia dúzia de pessoas aguardando. やった! Conseguimos! Somos os primeirões!


Liberta Stage! ^o^

Às 9:30 am, os portões foram abertos e começava a distribuição de wristbands (pulseiras de identificação). Todos foram em direção ao Mobilitas Stage para assistir a primeira apresentação, enquanto nós e mais alguns BECR maníacos corremos em direção ao Liberta Stage, onde a banda se apresentaria horas mais tarde. Ansiedade e mais ansiedade. Tremendo sem parar. O coração dava pulos. Borboletas rodopiando em meu estômago. Em algumas horas eu veria meus ídolos tocando!


Não perca a segunda parte da saga SASQUATCH!: nosso primeiro show no Nihon! ^o^


PS: As duas últimas fotos desta postagem foram retiradas de Twitters de pessoas que foram ao festival. Nós não levamos câmera fotográfica para o evento, por isso a necessidade de pegar emprestadas algumas fotos! No último post da saga serão dados os devidos créditos! ^_^

2010/05/12

春は美しい: a maravilhosa primavera japonesa!

Ainda não conheci todas as estações do ano no Japão, somente o rigoroso inverno e agora a deliciosa primavera, mas tenho certeza que a primavera é a mais bela e agradável de todas! Sou suspeita para falar, afinal de contas, é a época em que as minhas idolatradas sakuras florescem! Mas ela é minha queridinha também porque o clima fica mais ameno e quentinho, as flores deixam a paisagem urbana mais colorida e cheirosa e as pessoas parecem mais felizes, mais acolhedoras. Não é à toa que a primavera seja a estação mais retratada nos animes e mangás; quem nunca viu colegiais envoltas às sakuras, com pétalas rosadas caindo em seus cabelos esvoaçantes? Dá até a impressão de que todos os dias no Japão são daquele jeito, o que deixa muita gente desiludida quando lê posts em blogs como o meu!  ごめん、ね、みんなさん (Gomen, ne, minna-san = desculpa aí, pessoal!). Sendo ou não a primavera eterna, 日本の春は美しい! (Nihon no haru wa utsukushi = a primavera do Japão é maravilhosa!).

Os dias da primavera nipônica são ensolarados, mantendo uma média de 15ºC. Chove um dia ou outro e a temperatura até chega a cair, mas o sol logo volta a nos aquecer. Mesmo com o mormaço, é preciso usar protetor solar! Sempre! Além disso, nos スーパーマーケット (suupaamaaketto = supermercado) e 薬局 (yakkyokufarmácia) são vendidos diversos modelos de arm warmers (algo como "esquenta-braço", se é que essa tradução existe!), que são espécies de luvinhas até o cotovelo que protegem dos raios ultravioleta do sol. Esses acessórios vendem feito água, já que as mulheres japonesas são completamente maníacas e obcecadas por uma pele alva (esse tema será melhor explorado em um post exclusivo!). Eu mesma já usava várias dessas no Brasil, por questão de estilo e por ser um meio termo em épocas em que não faz nem frio, nem calor. Mas nunca pensei em também utilizá-las para proteger-me do 太陽さん (Taiyou-san = senhor Sol, em uma linguagem beeeem kawaiizinha! ^_^).

O sol aparece mais cedo e se põe mais tarde. Às 5 am, já dá para ver tudo claro do lado de fora, e às 7 pm começa a escurecer. Isso pode ser bom e ruim: bom pois o dia dura mais tempo, sendo possível apreciar as coisas ao redor até tarde (o Japão é suuuper escuro, pois não há iluminação nas maioria das ruas! Questões ecológicas...), mas ruim para quem tem uma cortina sem vergonha de hyaku en bem fininha no quarto, o que faz com quem dorme despertar com qualquer claridade... neeeem preciso dizer que isso se aplica ao nosso caso, né?  ('Д `*)

De março a maio, fugimos de nossas duras rotinas para apreciar as obras da mãe natureza. A primavera chega e nos leva a relaxar um pouco, deixar os problemas do dia-a-dia de lado e parar para cheirar as flores que aparecem de repente naquele parque ou naquela esquina que passamos todos os dias. Primeiro aproveitamos as sakuras, que duram tão pouquinho e nos deixam com gostinho de quero mais até a próxima florada. Elas nos hipnotizam, nos forçam a aproveitá-las o máximo possível para sentir o mínimo de saudades, pois só ano que vem elas voltarão. Depois que elas se vão, ficam as outras flores, igualmente belas, que lhes mostro a seguir! Nada melhor do que fotografias para expressar com clareza e exatidão a beleza da primavera do Nihon! (≧ω≦)



Matta, ne! 

2010/05/05

こどもの日: o dia das crianças só para meninos!





Hoje é comemorado o どもの日 (Kodomo no Hi = Dia da Criança) aqui no Japão. Não, não tem nada a ver com o 12 de outubro do Brasil: nada de brinquedos ou bugigangas bobas, nem comerciais apelativos na TV, e sim esvoaçantes e coloridas 鯉幟 (koinobori = birutas em forma de carpas suuuper kawaii)! Apesar do nome deste feriado, que antes era chamado de 端午の節句 (Tango no Sekku = Dia dos Meninos), os garotos continuam sendo os únicos homenageados. O governo bem que tentou mudar o nome  da data, deixando-a mais abrangente, mas como aqui é Japão, a tradição seeempre fala mais alto! De qualquer forma, as meninas possuem outro dia só para elas, o 雛祭り (Hina Matsuri) em 3 março, porém, não é considerado feriado nacional. Seria um indício de machismo da sociedade nipônica?!

Nesta data, as famílias japonesas expressam seus desejos de que seus filhos cresçam fortes, sadios, inteligentes e destemidos e, por isso, penduram os koinobori uma semana antes da comemoração. As coloridíssimas carpas ficam hasteadas em residências, ruas, canais e rios de todo o Japão... nadando no ar, submissas à vontade do vento, livres na imensidão azul. As carpas são uma metáfora: elas são verdadeiras guerreiras, têm toda a força do mundo para nadar contra fortes correntezas para desovar, sem enfrentar dificuldade alguma! E é exatamente isso que o povo oriental deseja: ter toda a energia e coragem do mundo para encarar e superar quaisquer obstáculos que possam aparecer na vida. Ser persistente e ter bravura são virtudes que qualquer pai almeja para sua prole.

O dia 5 de maio também marca o fim da ゴールデンウィーク (Golden Week = Semana Dourada). Similar à popular Semana do Saco Cheio, que ocorre em outubro no Brasil (também no Dia das Crianças!), a Golden Week é uma emenda de vários feriados nipônicos: Dia de Showa (29 de abril), Dia da Constituição (3 de maio), Dia do Verde (4 de maio) e Dia das Crianças (5 de maio). Sete dias douradíssimos! Tão valiosa quanto uma bela mina de ouro, os japoneses planejam no início do ano tudo o que vão aprontar nessa semana tão aguardada. Hotéis, parques, museus, shoppings,  trens, shinkansen (o famoso trem-bala), enfim, tudo fica lotado, esgotado, apertado e espremido nesses 7 dias tão esperados pelos trabalhadores mais estressados do mundo! Se você não quer ficar tão estressado quanto os japoneses, jamais visite o Japão nessa época! É melhor deixar para a próxima!

Mesmo sem filhos, fomos apreciar as belas koinobori no centro de Iwata. Penduradas em um rio perto do agitado centro da cidade, as koinobori dançavam, rodopiavam, voavam, enrolavam-se e divertiam-se com a força dos fortes ventos de Iwata. Um cenário maravilhoso, pareciam imersas, lutando ferozmente contra a corrente! Espalhavam suas cores vivas para todos os lados, deixando todos encantados com suas belas e bem desenhadas escamas. Tudo vira poesia na terra do sol nascente!



Assista ao vídeo das Koinobori de Iwata em full HD!