Todos sabem que sexta-feira, dia 11 de março, às 14h46, o terremoto mais forte de toda a história do Japão atingiu o país, né? Mas o que muitos não sabem, principalmente aqueles que não moram aqui, é da real dimensão do desastre, e acabam por entrar em pânico sem a mínima necessidade. ( T_T)\(^-^ )
O
東北地震 (
Tohoku Jishin = Terremoto de Tohoku),
como foi batizado, teve seu epicentro no Oceano Pacífico, a 24 km de profundidade, a 130 km de Ojika, península situada ao norte do Japão. A intensidade do tremor foi medida em 9 graus na escala Richter. O terremoto, em si, não foi o vilão da tragédia: foi o tsunami que devastou grandes áreas litorâneas da região nordeste do país. Vilarejos inteiros desapareceram com a força das ondas mortíferas. Até o fechamento desta postagem, já foram contabilizados 1598 mortos, principalmente nas províncias de Miyagi e Iwate. Se fosse só o terremoto, as vítimas não passariam de 30 ou 50.
Essas imagens são simplesmente... inacreditáveis. Parece cena do filme "2012", ou "O Dia Depois de Amanhã". As ondas literalmente engoliram uma cidade inteira! Não há como escapar!
Antes e depois do tsunami na cidade de Minamisanriku, na província de Miyagi. A pequena cidade de 17 mil habitantes está devastada: somente 7,5 mil habitantes foram para os abrigos, os outros 9,5 mil estão desaparecidos.
O
地震 (
jishin = terremoto) foi sentido em grande parte do território japonês, mas o país
NÃO foi devastado, como
certos sites sensacionalistas de notícias anunciaram. Como eles têm coragem de colocar uma linha-fina dessas?!
"Na sexta, forte terremoto gerou tsunami que devastou país". Imagino meu pai, minha mãe, lendo uma notícia dessas... (◎_◎;)
A mídia brasileira, além de levar informações desatualizadas e errôneas ao público, está transformando a tragédia asiática em show. São imagens do 津波 (tsunami) de sexta misturadas às de um terremoto da China, já que, na cabeça dessa mídia preconceituosa, "Ásia é tudo igual". É a mídia falando em explosões de reatores e Chernobyl 2 nos intervalos do BBB. É a mídia mostrando de novo, de novo, de novo e mais uma vez as mesmas imagens, "agora em câmera lenta", "agora com zoom". Um desastre desta magnitude não precisa de exageros para chamar a atenção, o evento em si já é um choque tremendo.
O repórter diz que o epicentro estava a 10 metros de profundidade e ainda mostram imagens que não são do terremoto do Japão! Com tantas imagens capturadas do jishin, pra que mostrar cenas fora do contexto?
Fukushima agora é em Ibaraki?! É complicado um repórter que mal sabe dizer "arigatô" querer cobrir um fato desses...
Não acreditem em boatos, nem que o Japão está condenado, nem que o Monte Fuji explodirá; ainda é muito cedo para afirmar qualquer coisa. Desconfiem das notícias da mídia brasileira, acompanhem Twitters e Facebooks de pessoas que estão aqui, vivem aqui, e que assistem a TV japonesa, pois podem ter certeza que são fontes de informações mais precisas do que os canais 5 e 7... (⌒-⌒; )
O Japão tem 377.873 km² de extensão, o que não significa que se ocorrer um terremoto ou tsunami, o país inteiro está condenado! Pode não parecer, mas o território japonês é enorme, são muitas ilhas, muitas províncias, muitas cidades. O Japão não é uma coisa só.
Cidade de Iwata, na província de Shizuoka, marcada no mapa com um A. Reparem como fica longe de Tokyo e, mais ainda, de Sendai!
Aqui em Iwata, na província de Shizuoka, não aconteceu nada grave. Não confundam a cidade de Iwata com a província de Iwate, no nordeste do país, que foi duramente castigada pelas ondas gigantes. Lá, sim, morreram milhares de pessoas. Iwata está segura, pelo menos até o terremoto de Tokai resolver acontecer... é, pois é, morar no Japão é uma aventura constante, é viver sempre de modo
あぶない (
abunai = perigoso)! o(≧▽≦)o
E, aaah, sim, esse foi meu primeiro
jishin! Posso parecer louca, mas confesso que estava meio ansiosa para sentir um, pois tinha curiosidade de saber como era a sensação. Estou aqui há 1 ano e ainda não havia sentido nenhum! No momento do tremor, eu estava trabalhando e, de repente, senti um forte mal estar, como se a pressão tivesse caído. Como já tenho pressão baixa, nem liguei, só encostei em uma prateleira para ver se a tontura passava. Só que eu percebi que ela estava balançando sem eu fazer nada! Olhei para cima e vi tudo sacudir, de um lado para o outro. O_O
Não me veio nada à mente, até que olho para meus colegas de trabalho e os vejo na mesma situação, parados uns olhando para os outros. E então, meus chefes gritaram:
"todo mundo pra fora! É jishin!". O pânico tomou conta! Saímos correndo e, do lado de fora, ainda sentíamos o chão tremer. O primeiro tremor durou, mais ou menos, 40 segundos. Todos os funcionários ficaram ali, reunidos, alguns assustados, outros achando tudo "muito louco". Durante esse tempo, cada um contava sua reação, que era exatamente a mesma:
"achei que estava passando mal". Muitos disseram nunca ter sentido um terremoto desses! Outros, que estão aqui há mais de 10 anos, nunca tinham sentido um tremor durante o trabalho, já que a maioria dos terremotos acontece de madrugada, quando todos dormem tranquilos.
Após cerca de 20 minutos, tudo foi normalizado e voltamos ao trabalho. E quem disse que conseguíamos nos concentrar? Todos estavam com muito, muuuuito medo! A todo instante tínhamos a sensação de tudo estar tremendo de novo. Uma grande paranóia coletiva! Na hora do
休憩 (
kyukei = intervalo), todos correram para seus
携帯 (
keitai = telefone celular) para saber mais informações sobre o tremor. As notícias eram assustadoras: grande tsunami em Sendai, Tokyo sem transporte público, prédios desmoronando em diversas cidades, pessoas correndo em pânico pelas ruas. Vi um amigo japonês que mora em Aichi-ken dizendo no Twitter que também havia sentido o
jishin, mas que estava tudo bem por lá. Eu postei no Twitter, ainda assustada:
"Nooooossa! Tremeu tudo aqui em Iwata! 地震!!!", o que mais tarde gerou pânico entre familiares e amigos que tenho no Brasil. Mas nada que mensagens no Orkut, no Twitter e conversas no Skype não resolvessem! (#^.^#)
A montadora Suzuki de Iwata no noticiário da manhã de segunda-feira: a produção ficará paralisada até quarta-feira, dia 16.
Mas, não, aqui em Iwata não aconteceu nada demais. Nessa cidadezinha pacata nunca acontece nada! Quando chegamos em casa, não havia nada derrubado, nem fora do lugar. Iwata fica a mais de 600 km das províncias mais afetadas, então não há razão para pânico. Li em algum Twitter que a magnitude do tremor em Hamamatsu foi de 5 graus, muito fraco para fazer algum estrago. Mas foi forte o bastante para chegar até Mie e Aichi, províncias mais afastadas do epicentro do que Shizuoka, e gerar um tsunami na costa nordeste do país com ondas de até 10 metros. Ondas, estas, que me deixaram chocada...
Ondas destrutivas!
Repórteres e âncoras usando capacetes o tempo todo!
Até então eu não sabia da real dimensão do problema. Só vi, de fato, ao ligar a TV. Todos os canais falando a mesma coisa, um deles até dando alertas em português! Mas as imagens do tsunami em Sendai e Iwate me deixaram completamente sem fala. Naquele momento, sim, eu senti um medo real, uma sensação muito ruim. Medo das ondas gigantes, medo da força do mar, medo da água engolindo a vida de milhares de pessoas, medo das casas e carros sendo arrastados por quilômetros, medo do futuro do meu amado país. TT_______TT
Os moradores de Iwata estão desesperados e resolveram estocar alimento. Na farmácia Winderland, na esquina de casa, os galões de água desapareceram das prateleiras! No sábado, até nos grandes supermercados eles estavam em falta!
A natureza é realmente perfeita, pois quando quer ser bela, ela é, e quando quer ser destrutiva, ela também é. E por falar em natureza, percebo um comportamento estranho nos
カラス (
karasu = corvos) desde o mês passado. Eles, que sempre foram criaturas solitárias, começaram a voar em bandos enormes e fazer muito barulho. A primeira vez que vi isso foi na cidade de Okazaki, em Aichi. Dias depois, comecei a observar em Iwata também, quase todos os dias ao sair do trabalho. Fiquei com isso na cabeça por um bom tempo, até que li
essa notícia, no dia 11 de fevereiro e até cheguei a postá-la no
Twitter. Não tive mais dúvidas de que algo viria por aí. No dia seguinte ao terremoto, observei o mesmo fenômeno dos karasus.
Karasus nos fios de eletricidade, em Okazaki, em fevereiro.
No dia do jishin, eles continuavam barulhentos e unidos aqui em Iwata.
Muitos karasus reunidos nos fios de eletricidade, em Iwata.
Não sei dizer se é normal, se é coincidência ou o quê, mas acredito que quando há um grande desastre natural por vir, os animais são os primeiros a sentir. Sempre. Não sei se eles voaram para cá por ser um local seguro, ou se estão confusos sobre que direção tomar, ou se é um mau sinal. Só sei que, como falei, a natureza é perfeita e dá seus avisos por meio de sutilezas, cabe a nós interpretá-los.
A fúria da natureza jamais será controlada, nem com a mais avançada das tecnologias. O certo a fazer é, nunca, jamais, provocá-la. O problema não é do Japão, e sim da humanidade. Espero que o homem aprenda uma lição de uma vez por todas com tantos desastres naturais acontecendo. Vamos respeitar a mãe natureza!
O Japão irá se reerguer mais rápido do que imaginamos; o povo japonês é guerreiro, não desiste nunca, sempre irá se levantar e continuar a lutar! Depois de um temporal, vem sempre um arco-íris! ♪───O(≧∇≦)O────♪
がんばって、日本!!
Ganbatte, Nihon!
ヽ(;▽;)ノ ヽ(*^◯^*)ノ
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